Uma vez, há anos, presenciei uma cena revoltante e comovente
em uma pizzaria de minha cidade, Franco da Rocha, SP. Numa mesa uns cinco
meninos visivelmente evangélicos, pediram uma pizza. Riam discretamente,
estavam felizes em seus terninhos e com suas Bíblias. Certamente haviam acabado
de sair do culto. Mais mesas estavam ocupadas. Numa dessas uns três ou quatro
rapazes bebiam cerveja. Talvez o dinheiro que traziam no bolso não desse para mais que isso. E vendo os evangélicos recebendo uma deliciosa pizza, um deles revoltou-se. Digo isso por causa das cenas que se seguiram.
Chegou a pizza do primeiro grupo. Começaram a comer com
alegria, garotos ainda. De repente, um rapaz do segundo grupo levantou-se,
aproximou-se da mesa dos evangélicos e falou alto alguma coisa para o menino
maior, que parecia ser o líder deles. Em seguida, sem motivo algum, aplicou-lhe
violenta bofetada no rosto. Todos empalideceram sem acreditar que uma coisa
dessas pudesse acontecer. Envergonhado e incapaz de reagir, o garoto agredido baixou a cabeça e começou a chorar. O valentão se exibia para os
amigos que riam. Achava-se o máximo. O dono da casa os colocou para fora, mas
eles não foram embora. Ficaram na porta esperando os garotos evangélicos
saírem. Foi preciso que o dono chamasse uma viatura policial para que os meninos
evangélicos pudessem ir embora sem sequer terem saboreado a pizza que ficou
esfriando na mesa. O que, para eles, seria uma reunião alegre entre amigos, se
transformou em momentos humilhantes.
Jovens violentos como aqueles, há muitos por aí, por aqui,
por todo lugar. Eu preferia não ter presenciado isso. Eu podia muito bem ter
ido dormir em paz. Os meninos evangélicos também.
Pior - De outra feita, por volta das 9hs da noite de uma quarta-feira, eu bebia minha cerveja e lia meu jornal. Um casal amigo me cumprimentou e sentou-se numa mesa próxima. Dali há uns instantes, percebi uma agitação diante de um comércio ao lado. Era briga, coisa que prefiro evitar assistir. Mas pensei que podia ser um irmão meu, ou um grande amigo. Levantei-me e fui até a porta conferir. Me arrependi, devia ter ficado no meu lugar.
Dois sujeitos agrediam um terceiro que estava de joelhos. Um
dos agressores bateu com um pedaço de pau na cabeça deste, e o outro, com uma
faca na mão, tentou passar a lâmina na garganta do rapaz abaixado que,
percebendo o perigo, encolheu-se todo, livrando-se do corte na garganta. Então
o rapaz da faca passou a golpear suas costas e olhava nervoso para a rua, certamente
para ver se nenhuma viatura se aproximava. O rapaz esfaqueado gritava.
Voltei para dentro estarrecido. O casal me olhou com os
olhos esbugalhados: O que tá acontecendo? E eu: Gente, um cara tá sendo esfaqueado ali na calçada!
Horror geral. A moça disse pro parceiro: Vamos embora, vamos embora! Ainda vi os dois agressores passarem correndo e desaparecerem. E fui até porta e vi o esfaqueado indo na calçada, as costas ensanguentadas, as mãos na cabeça e gritando: Mãe, mãe! Mais tarde
eu soube que o rapaz ferido fora levado ao hospital e não corria risco de vida.
Teve sorte que o agressor não aprofundou a lâmina; ele dera picadas leves.
As noites não são mais as mesmas. É preciso muito, muito
cuidado ao sair de casa. Mesmo ao ficar em casa: muito cuidado.