sexta-feira, novembro 27, 2015

O não é ausência do sim

05/11/2015

20:09

Beber um querosene, tomar uns goros,
Sei lá, talvez apertar unzinho.
Eu posso, já sou bem velhinho.
Ouvir rock, escrever um verso atroz.

Viver cultivando ervas venenosas.
Às vezes umas plantinhas carnívoras.
Fugindo sempre das almas sebosas.
Oras, nenhuma fera é herbívora.

Posso dar um tiro, tomar um baque.
Desertar dessa decência inútil.
Me perder nas curvas e antros.
Ver Big Brother, me tornar fútil.

Rir na cara da tropa de choque.
Passar a mão na bunda do sargento.
Acender uma vela no pé da sentinela
e, numa missa negra, invocar o sarnento.

É hoje que eu bebo um litrode querosene, de água sanitária.
É agora que o Destino se estrumbica.
É hoje que morro, mas de larica.

Veja você: no meu quintal
até reforma agrária eu fiz
Pisei no pé daquele ditador.
Na igreja cantei um xaxado pro Senhor

Porque sei: tudo vem de algum lugar,
mas há coisas que não tem fonte.
Silêncio, escuridão...
O punho quando a mão se abre,
o colo quando se levanta.
Não nascem de nada, são ausências,
são alterações da essência.

É quando o não é ausência do sim.
A bronha quando você não está a fim.
A minha raiva de vocês todos
porque hoje trago meu coração
coberto de lodo.