sábado, outubro 26, 2013

Procura-se fazedores da cidade

Uma cidade se faz com homens e mulheres providas de alma luminosa. Que abraçam sua rua como quem abraça o filho. Que olha com respeito para o passado e vê com satisfação as transformações que se concretizaram. No entanto, o que mais se vê infestando as ruas e bares são almas sombrias, pessoas vazias, movidas por um instinto animal, contando vantagens e exibindo posses e poses sem produzir nada interessante. Esses são aqueles que mais reclamam e sempre criticam tudo.
O que Franco da Rocha precisa é de cabeças pensantes, é de fazedores da cidade, é de pessoas dispostas a dar vassouradas vigorosas neste lugar, tornando-o habitável e agradável. É preciso afastar os interesseiros, os gananciosos, os maldosos, os mau-caráter loucos por dinheiro. É preciso por pra correr os incompetentes, os preguiçosos, os parasitas nocivos, os ladrões de idéias e de ideais.
Uma historinha:
Conta-se que o Rei de Espanha, em certa época, foi visitar as obras da fabulosa Catedral de São Tiago. Ali, o Rei encontrou um homem misturando areia e cal. Perguntou-lhe: - O que faz, meu bom homem? E o homem, depois das reverências devidas: - Estou fazendo argamassa para juntar pedras e levantar paredes, Majestade. O Rei seguiu caminho e viu um homem quebrando pedras: O que faz você , meu bom homem? E o obreiro: Quebro pedras para erguer paredes, meu Rei. Depois viu um homem que entortava arcos de ferro. – Eu estou montando vitrais, Majestade. Em seguida o Rei de Espanha deparou com um menino carregando um saco de pedras.
- E você? O que faz, meu rapaz?
E o menino, todo orgulhoso:
- Estou fazendo uma catedral, Majestade.
Assim, enquanto muitos vão se locupletando, poucos, muito raros, erguem uma cidade. Pouquíssimos olham com amor para essas ruas feias, esses bairros encardidos, e sonham com ruas limpas, calçadas quadriculadas, jardins, manhãs de sol onde uma juventude sorridente e colorida namore, cante , colha flores. É segurar pra não chorar...

sexta-feira, outubro 11, 2013

Viu a uva?


Meu neto, o único por enquanto, nasceu em 2004. Eu trabalhava na Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Santo André, SP. Éramos mais de quinze jornalistas atuando na área. Todos os dias, quando eu chegava para trabalhar, uma jornalista de Santos me perguntava com ironia:
- Vovô viu a uva?
Como eu realmente havia sido promovido a vovô, achava divertido. Mas a repetição da mesma piada me encheu os pacovás, até que quando, pela enésima vez, ela fez a mesma pergunta, eu lhe dei um troco espirituoso e definitivo para riso geral:
Ela: - Vovô viu a uva?
E eu: Não! Esta noite vovô viu a vulva.
Ponto final. Nunca mais ouvi dela essa piadinha. É assim que se faz. Depois disso, durante meses, um outro colega oriundo de Mairiporã, SP, me perguntava com ironia indireta para ela:
- E aí, Alcir? Vovô tem visto a uva?
E eu: - Sim, mas não com a variedade que gostaria, nem com a frequência que deveria.


sábado, outubro 05, 2013

Bulling Geopolítico

Os americanos espionando o Brasil para levar vantagens comerciais representa um desrespeito sem precedentes. Para os americanos nenhum outro povo, que não eles, merece respeito. É o bulling geopolítico: o fortão abusando dos mais fracos. Por isso o 11 de setembro.
O Brasil não pode ficar agradando o crocodilo na esperança de ser o último a ser devorado. Apesar de todas as nossas vergonhas, temos que preservar um mínimo de dignidade. Nossa soberania é sagrada. Para eles, a Liberdade é só uma estátua.
Sou brasileiro. Gosto de sê-lo. Não tenho afinidade com rambinhos fortões, armados e idiotas. Afinal, a Presidenta Dilma Roussef, democraticamente eleita, tem direito a banhar-se e trocar de roupas sem nenhum americano a espioná-la pelo buraco da fechadura

quinta-feira, outubro 03, 2013

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terça-feira, outubro 01, 2013

Minha música censurada

O regime militar acabou em 1985 no Brasil. Em 1982, o município de Caieiras promoveu um Festival Amador de Música Popular Brasileira, cujo bordão era “O Sagitário vai cantar”. Um festival amador de música agita uma cidade, atrai o interesse da juventude e revela artistas criadores. Compositores de várias cidades se inscrevem e trazem suas torcidas para animar ainda mais a festa.
As músicas inscritas são pré-selecionadas pela comissão organizadora ou pelos jurados, quando escolhem as melhores que irão participar das eliminatórias. As que não passam por essa primeira peneira, esse primeiro crivo, por serem muito ruins ou por não obedecerem o regulamento, são previamente eliminadas. As demais são agrupadas para serem apresentadas e avaliadas em duas ou três eliminatórias com acesso do público. As que passam por esse segundo crivo vão para a grande final.
Eu, animado por amigos, inscrevi uma música que havia acabado de compor, que denominei “Amazônia”. Não sou músico, mas toco um pouco de violão, o que me permitiu compor meia dúzia de músicas. Mas a que inscrevi não passou pela primeira peneira, sendo eliminada já na pré-seleção. Fiquei chateado, era uma bela música e com uma letra instigante. Paciência.
Poucas semanas depois de saber da desclassificação, encontrei um amigo de Franco da Rocha, com quem mantive um diálogo aproximadamente como se segue:
- Bela música a sua, a “Amazônia”, disse o amigo.
E eu:
- Mas, de onde você conhece a minha música?
- Eu trabalho na Prefeitura de Caieiras e estava na sala quando aconteceu a avaliação da sua música. Discutiram pra caramba, as opiniões se dividiram e houve discórdia aguda. Uns caras do Juri adoraram a música, outros a detestaram e falavam que era “coisa de comunista”, que não era bom deixar passar aquela letra, no que o Presidente do Juri concordou. Acabaram vencendo e sua música foi proibida, explicou o amigo.
- Proibida?, retruquei surpreso. Mas ela não foi desclassificada?
E o amigo.
- Não, ela foi proibida pela ala conservadora dos jurados, que era maioria... mas eu não te falei nada disso, tá bem?
O amigo, cujo nome não me lembro, temia ser demitido por ter me revelado a verdade. Por um lado eu fiquei furioso por ser vítima de tamanha imbecilidade. Por outro, orgulhoso por ter uma música proibida pela mentalidade repressiva que imperava na época. E assim foi.
Segue a letra para que você avalie se merecia mesmo ser proibida.


Amazônia
Letra e música: Alcir Rodrigues de Oliveira

Extravasar meu sorriso sem luz
Emancipar esse índio que mora em mim
Ele jamais, ele nunca, nunca mais
terá sua paz.

REFRÃO - Sacrificar ao progresso meus bem-te-vís,
multiexplorar meus posseiros qual no Jari

Fortes traços de guerreiro, serás o primeiro dos homens normais
Índio, olhos de criança, trazes nas entranhas gritos viscerais
Serás sempre um bandoleiro que agride primeiro - aos olhos da Funai
Expulsos de suas terras onde proliferam multinacionais... fatais.

REFRÃO

Quem te dera, ai!, quem te dera levantar a clava num grito de guerra
Quem te ama, oh!, quem te ama, Amazônia clama aos filhos naturais
Amazônia yanquee, floresta dos tanques, estrôncios letais
Nem o napalm convence que teus índios/filhos são uns animais... banais.

REFRÃO

Quem esboçar um motivo pra estar aqui
Quem suportar sem abrigo este porvir
Quem entender este canto dos Waimiris
Descobrirá que um deus virá, um deus virá...

Sacrificar ao progresso meus bem-te-vís,
multiexplorar meus posseiros qual no Jari.