terça-feira, novembro 28, 2006

Carnaval do Clube Juventus em 71: uma quase-tragédia

Carnaval do Clube Juventus em 71: uma quase-tragédia
Vivi intensamente os anos 70. Por isso me sinto meio velho hoje. Foi nessa década que se deu minha formação político-cultural. Sob a mão pesada do regime militar, a gente respirava arte e cultura. Em 74, eu e meus amigos acampávamos muito. Com nossas músicas, participamos de Festival Amador de Música Popular na cidade. Em Franco da Rocha havia o Centro Comunitário, onde havia o Tececo, grupo local de teatro que montara a peça O Homem do Princípio ao Fim, de Millôr Fernandes. A gente curtia o local.
Estudávamos no Befama (resumo de Benedito Fagundes Marques, o colégio). O agito era a rua Jundiaí, com sua escadaria, a juventude sentada lá, paquerando. A bebida era cuba libre. Meus amigos, muitos. Os mais próximos, Pedro Quintanilha e Mário Ramos, moravam no meu bairro. Os dois desenhavam e pintavam bem. Mário tocava violão. Começamos, ou melhor, eles começaram a fazer umas máscaras com jeito indígena montadas sobre cascas de coqueiro. Aprendi e tentei fazer também. Foram tentar vender em São Paulo. Era 1971. Um sujeito gostou, conversou com eles e sugeriu que poderiam fazer a decoração de carnaval do salão do Juventus, na Moóca, ganhando um bom dinheiro.
Reunimo-nos e fomos conhecer o salão do clube e nos inscrever para apresentar um projeto. Eles desenharam um croqui do salão e parte externa útil, com medidas aproximadas... Dos três, só eu era maior de idade. Varamos noite, eles desenhando, eu sugerindo e dando idéias. Compomos um projeto intitulado “São Paulo de Luanda”, com temática afro. Na parte externa haveriam algumas cabanas de madeira coberta com sapé e grandes estandartes coloridos. Na parte interna, painés estilizados de guerreiros e temas afros etc. Colocamos um preço um pouco abaixo do limite proposto pelo Juventus.
Havia mais uns cinco projetos concorrentes. A diretoria do clube eliminou alguns e sobraram o nosso e mais dois. Em seguida nos informaram que só permaneciam concorrendo o nosso projeto e um outro, de um japonês. Aí caiu a ficha para mim: o trabalho seria complicado, exigiria mão-de-obra para serrar, recortar, desenhar, pintar, instalar etc. E nós nada tínhamos a não ser as idéias e a boa vontade... de ganhar muito dinheiro.
Pensei comigo: se formos escolhidos, quem terá de assinar o contrato serei eu, o único maior de idade. E o prazo para entregar o salão decorado era um tanto curto. E ficamos com medo de algum maluco botar fogo nas cabanas. E outros medos vieram... E eu amarelei: “não temos estrutura nem experiência, vamos desistir! Nós não conseguiremos montar a coisa a tempo. Imaginem, argumentei eu, a gente pagando o mico de acabar com o carnaval do clube Juventus! Vai ser uma tragédia! Eles matam a gente!”
Desistimos. E deixamos o tal de japonês faturar a grana. Hoje Pedro Quintanilha é um artista plástico de primeira linha na região. E Mário Ramos é enfermeiro de plataforma de petróleo da Petrobrás na Bacia de Campos,Rio de Janeiro. E piloto comercial de avião... e instrutor de vôo do aeroclube de Jundiaí. Enquanto isso, eu...

Um comentário:

Anônimo disse...

E meu CAMARADA ALCIR...Gostei da passagem no Clube Juventus...Tempos idos...Caminhos seguidos diferentes por cada um de Vcs...Mas continuas Jornalista e defensor do LULA...Parabéns...risos..

Abraços

Seu amigo Carlãoboy (Mota)...1º de vários contatos, acredite!!!