sábado, setembro 05, 2015

Eu poderia



Eu poderia
          Alcir Oliveira

Limpem essa mesa. Por favor, limpem.
Tirem os pratos, os copos, tudo.
Tirem também a toalha. A toalha...
Assim, deixem-na limpa, vazia.

Quero colocar sobre ela uma coisa,
uma coisa simples para vocês:
uma pergunta.
Sim, uma pergunta, poucas palavras,
uma interrogação no final.
Só isso.
Essa pergunta carrega todo o meu cansaço,
as coisas que eu vi, minhas dores,
Meus sonhos...

Essa pergunta, Ah!, ela não quer respostas
Uma pergunta que se basta por si mesma.
Por dedução, por indução, por qualquer caminho
sem respostas, muitas respostas.
Vazias, todas. Idiotas.

As respostas são arrogantes, sempre são.
Ela está aí, sobre a mesa, a pergunta.
Cale-se. Não diga nada, não quero...
Não, eu não quero ouvir sua voz.

Sua curiosidade é ridícula, simplesmente.
Talvez eu esteja rindo, eu poderia sim.
Mas minha pergunta não me permite.
Seria uma afronta, um pecado mortal
eu rir nesse momento.

Ela está ali... Foi colocada.
Todos se entreolham, pasmos, desconfiados.
Eu poderia rir... Eu poderia ir...

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